03 dezembro, 2008

Desertificação. E nós?


Na visita que o Presidente da República fez, a semana passada, ao Alto Alentejo, nomeadamente ao distrito de Portalegre, referiu-se ao problema da desertificação do interior de Portugal continental, motivada pelo envelhecimento da população e pelo despovoamento. Certamente que o fez na sequencia do relatório das Nações Unidas, já aqui referido pelo Tibério Dinis, no qual foram divulgados estudos que projectam uma redução da população portuguesa, na ordem dos 700 mil habitantes, nos próximos 40 anos.

Esta mesma conclusão foi projectada pelo INE, num estudo publicado já em 2005, chamando particular atenção para a acentuada diminuição da população nas regiões do interior, em oposição a uma cada vez maior concentração nas grandes áreas urbanas. Este fenómeno, com principal origem na crescente diminuição das taxas de natalidade já está a atingir a Região Autónoma dos Açores que, mesmo sendo a região de Portugal com maior índice de população jovem, não foge a esta regra. O problema manifesta-se em algumas das nossas ilhas mais pequenas, não só por haver cada vez menos nascimentos mas sobretudo pelo comprovado êxodo de jovens à procura de melhores condições de vida noutras paragens.

Estatísticas da Educação sobre o número de alunos que frequentam as Escolas da Região demonstram uma clara e sistemática diminuição da população estudantil. Se no ano lectivo de 1993/1994 havia 21.264 alunos matriculados no 1º ciclo do ensino básico, dez anos depois este número caiu para 16.981. Notícias publicadas em 2007, que deveriam ser motivo de alarme e de grande preocupação para o governo da Região, davam conta que o número de alunos matriculados naquele 1º ciclo para o ano lectivo de 2007/2008 seria agora de 13.877. Ou seja, em pouco mais de uma década os Açores perderam 7.287 alunos. É muita gente que vai fazer falta ao nosso desenvolvimento.

É preciso encontrar e implementar soluções para contrariar esta tendência.

Ora, se uma maior concentração de população leva ao desenvolvimento das actividades económicas e consequentemente à criação de emprego, à construção de equipamentos colectivos e a melhores transportes e vias de comunicação, é inegável que cada vez mais jovens vão continuar a deslocar-se para as grandes áreas urbanas, levando à crescente desertificação das suas regiões de origem.

7 comentários:

Tibério Dinis disse...

Este é daqueles problemas que adoro debater, por uma razão muito simples, continuam a existir muitos a negligênciar este problema que em última análise não é apenas êxodo das ilhas mais pequenas para as maiores, mas também dentro das grandes ilhas para os pólos.

Não há capacidade de atracçãop dos jovens, qualquer jovem açoriano que chegue a uma grande cidade portuguesa diz "quero ficar aqui, tenho tudo aqui".

O problema do êxodo nos Açores tem sido abafado sistemáticamente, e não tem uma única causa é um efeito domínó onde para mim a primeira peça responsável é a ineficácia dos transportes.

Continuo a dizer que daqui a 50 vamos estar a discutir a viabilidade de algumas ilhas, porque se nada tem sido feito e continuam a abafar este problema e não há soluções de curto e médio prazo só vamos dar pelo abismo quando já tivermos no fundo...

Haja Saúde

Claudio Almeida disse...

Concordo contigo, o principal para o desenvolvimento das nossas ilhas e para a lá ficarem os jovens, passa essencialmente por bons e regulares transportes. Quando isso não acontecer, nem daqui a 50 anos.

rui raposo disse...

Viver numa grande cidade é uma opção. Viver numa ilha pequena é outra opção. Não ter filhos antes dos 40 é ainda outra opção. Quero com isto dizer que a baixa taxa de natalidade e a desestificação não são problemas. São, sim, uma condição, ou um dado, com o qual é preciso contar para planear o futuro.
Não me preocupo nem um bocadinho que daqui a 40 anos sejamos 9.300.000 portugueses. O que é importante é que esses 9.300.000 vivam melhor que os 10.000.000 actuais.
Quanto à questão dos transportes, concordo com o que está no post, mas mais uma vez, acho que daqui a 40 anos, o conceito de "transporte" terá sido completamente absorvido pelo de COMUNICAÇÂO.
Resumindo e concluindo, acho que não se tem de planear hoje para evitar a desertificação amanhã, mas sim planear de forma a que o direito/opção de viver num sítio mais pequeno ou mais longínquo, seja tão gratificante quanto o de viver numa grande cidade, portuguesa ou europeia.

Rui Raposo

PS- Tibério, sou teu "cliente" no InCONCRETO, e vou pedir-te um favor. Pontúa ccorrectamente os teus POST!!! Se há coisas que me irritam são textos com bons conteúdos, mas mal escritos. Sei que é por questões de tempo, mas tenta corrigir isso. Por favor, não me leves a mal! É que, como se diz na tua terra, é uma INQUIETAÇÃO ler os teus textos!!

PS(D)- Para o Cláudio:
Que tal te fazeres sócio da Casa do Povo? Ainda não temos deputados na lista de sócios... Vendo bem, é também uma (pequena) forma de contrariar a desertificação!

Abraço, e espero que estejas a gostar desta nova fase da tua vida.

Diogo Duarte disse...

Como eu gostava de ser como a maior parte dos jovens universitários portugueses e poder ir com maior frequencia a casa...

Tibério Dinis disse...

Caro Rui Raposo,

obrigado pelo reparo, tenho notado nos comentários que faço - não tenho qualquer cuidado. Quanto aos posts tenho apenas os cuidados mínimos.

O In Concreto é dos blogues açorianos mais actualizados e é apenas suportado por mim, é impossível manter uma média de 3/4 posts diários com cuidados redobrados na pontuação. Confesso que a pontuação sempre foi um peso nas aulas de português.

Não é a primeira crítica neste sentido, irei ter em conta a sua opinião com todo o gosto. Obrigado por tornar o In Concreto e ao mesmo tempo a minha participação no Paralelo melhor.

Haja Saúde

Claudio Almeida disse...

Boas Amigo Rui

Olha com muito gosto que aceito esse teu convite!

Hei de là passar para fazer a inscrição.

Abraço

Victor S. Gomez disse...

Problemas parecidos temos por aqui, nossos jovens também deixam o interior do país em busca de novas frentes de trabalho. Abraços